Carla Luisa Frey Bamberg
Cartas Paulinas
Trabalho apresentado ao Itepa
Faculdades, na Teologia de férias como exigência
da disciplina “Cartas Paulinas”, sob orientação do Prof. Ademir Rubini.
PASSO FUNDO – 2015
Escolher cinco cartas paulinas que me
ajudam na vida e na pastoral
As cartas de Paulo retratam de maneira concreta a
realidade das comunidades. As cartas foram escritas entre os anos 51 e 63 da
era cristã. Paulo tem como objetivo tratar de problemas específicos das
comunidades. Sua preocupação central é mais prática e pastoral. Ele concentra
seus esforços em criar comunidades permeadas pelo espírito do Ressuscitado e
animá-las diante dos inúmeros desafios que se apresentam. Apesar de responder a
problemas concretos, Paulo tem como base convicções teológicas aplicadas à
situações ocasionais interpretado a partir da sua experiência de fé em Jesus Cristo
crucificado e ressuscitado, que para nós hoje é relevante e nos ajuda na vida e
missão que desempenhamos como discípulos e missionários de Jesus.
As escolhidas
1) CARTA AOS EFÉSIOS
Seria uma carta? Mais
parece um tratado,
ou homilia. Em todos
os casos, é junto com Cl, Fl e Fm, uma carta do cativeiro.
Não
há referências pessoais
de Paulo aos
cidadãos
de Éfeso. Isto estranha, pois
Paulo permaneceu três meses nesta cidade (At 19,8). Diz que ouvi falar (Ef 1,15; 3,2). Por esta, e por outras razões, muitos biblistas julgam que a carta não é de Paulo, mas de um discípulo seu. O vocabulário, o estilo e os conceitos teológicos não coincidem com
as cartas genuinamente paulinas. “O autor de Efésios
usou Colossenses
de
um modo em que nenhuma epístola paulina foi jamais usada por outra epístola” (MCKENZIE, 1983, p.252).
Neste tempo era comum que algum discípulo desse continuidade ao pensamento
e à
missão de Paulo e lhe atribuísse a obra. “Já não é
o Paulo histórico, mas seus discípulos que fazem falar o apóstolo nas novas circunstâncias que surgiram depois de sua morte nas igrejas
por
ele fundadas” (RODRIGUEZ, 2006, p.319). Uma hipótese: seria
Tíquico (Ef 6,21; Cl 4,7)? Ao que parece,
seria um discípulo de segunda geração.
Combate os
erros
judeus e gnósticos
que formaram um sincretismo.
Os mesmos constatados em Colossenses. Estes erros podem
ter surgidos da miscigenação entre gregos e judeus, que, ao absorver os espíritos cósmicos dos gregos, os transformaram
em anjos. Estes desvios doutrinais fazem
sombra sobre a pessoa de Jesus
Cristo.
Os
elementos aparecem em Efésios são: forças, governos, principados, príncipes, poderes, autoridades, tronos, dominações. Seriam
seres intermediários entre Deus e os humanos, que assumem o lugar de anjos e demônios. São oriundos
do paganismo. Estas figuras trazem sombras sobre a pessoa de Jesus. Diante destes possíveis
desvios, Paulo responde reafirmando o papel
central
de Cristo que tem
primazia sobre
tudo e que destróis todos os
poderes.
Para nós hoje a carta aos Efesios
contribui para uma melhor e maior amadurecimento do mistério da nossa fé. Em
Jesus tudo se afirma mediante a fé da comunidade no Resucitado. As figuras e a
simbologia que trás a carta aos Efesios
na Igreja servem para demosntrar a profundide do mistério da nossa fé que une o
ser humano com Jesus Cristo.
Como continuadores da obra de Paulo,
cabe a nós em nossas obras concretas demosntrar nossa fé em Jesus Ressucitado.
2) - CARTA AOS COLOSSENSES
É uma carta que aponta para centralidade de Cristo. Ou seja, Cristo está acima dos poderes cósmicos,
dos anjos, vencedor de todos os
poderes. Há uma boa mistura de assuntos. Paulo quer corrigir erros doutrinais: elementos pagãos misturados com
judaicos: circuncisão (2,11), festas e comida (2,16) com
“filosofia” grega – elementos do mundo
(2,8). Estes
elementos do mundo podem ser a terra, fogo, água e ar, mas
podem também ser Regentes Cósmicos que regem
os astros, transformados em
anjos pelos judeus. Às
vezes são chamados de Principados, Potestades (2,15), outras vezes recebem o nome de
anjos (2,18).
Para nós hoje
como Vida Religiosa Consagrada a centralidade deve ser sempre Jesus Cristo a
razão do nosso seguimento radical, e isso nos interpela a sair de nós mesmos, a
desafiar e demosntrar por meio de nossos gestos, obras e ações que nos
impulsiona no nosso ser missionário.
Paulo em seu
agir missionário descreve declara claramente que
Cristo é Criador (1:16), Cabeça (1:18; 2:10), e Salvador (1:20-23), e que
qualquer outra doutrina não é nada mais do que "filosofia e vãs sutilezas" de homens (2:8). Mediante a sua
convicção faz com que novos adeptos se unam a ele e ao projeto que propõe no
seguimento a Jesus.
O nosso exemplo do “ardor missionário” deve transparecer em nosso
rosto, como a figura de Paulo, com isso outros jovens devem sentir atraidos pelo
nossa proposta da contrução de um Reino de amor no seguimento radical a Jesus
Cristo. Cabe a nós o desafio de sair de nós mesmos, da nossas misérias humanas
e ir ao encontro do outro que espera de nós e que pode contribuir para a
construção de uma melhor sociedade dentro da proposta do evangelho.
Paulo
afirma com autenticidade seu apostolado;
A liberdade em Cristo; superação da discriminação de cultura, classe e gênero;
salvação pela fé, que age pelo amor, e não pelas obras da lei.
Paulo
sente-se chamado e enviado por Cristo (1,1.12). O apóstolo se defende de várias
acusações. Os adversários acusam Paulo de pregar um evangelho incompleto, ou
seja, sem a lei: O apóstolo se defende desta acusação nos capítulo 3-4. Por
essas indicações da carta, pode-se ter uma idéia da causa em conflito: Quando
esteve na região, Paulo proclamou a justificação por graça e fé. Para os
adversários, que chegaram após a sua saída, a fé, aparentemente, também tem um
papel importante, mas a justificação não é completa sem a observância das obras
da lei. Por isso, na opinião deles, os gentios conversos precisam ser
circuncidados, observar as festas do calendário judaico e observar a lei para
serem incluídos na nova aliança.
Trazendo
para o nosso contexto, Paulo é um
missionário em saída sempre impulsionado pelo espírito santo revoluciona por
onde passa, levando uma palavra de conforto, mediante os desafios ele enfrenta
com coragem e ousadia, cabe a nós como discípulos de Jesus aventurar, aventrar,
sair em missão sem medo e com a certeza que o Cristo Ressucitado caminha do
nosso lado.
4)
CARTA AOS FELIPENSES
Na época de Paulo, a cidade estava em declínio, pois
as minas de ouro e prata estavam esgotadas. Muitos dos habitantes de Filipos
eram militares aposentados do Império Romano que recebiam terra para se
assentar. Era um centro de mineração, comércio e portuário.
Era forte o Culto ao imperador,
coexistindo com outras religiões vindas do Oriente: religiões mistéricas. Paulo
fundou a comunidade na segunda viagem missionária, por volta do ano 50,
acompanhado de Silas e Timóteo, e talvez Lucas, que passa a descrever os fatos
na primeira pessoa do plural em At 16,10.
Em Filipos não havia sinagoga. A comunidade começa
com um grupo de mulheres, junto ao rio Gangas. Reuniam-se na casa de uma mulher – Lídia, que
era de Tiatira (At 16,14). Paulo nunca viveu isoladamente de sua relação com
Deus ou com Jesus, o Senhor. As suas comunidades são sempre motivo e objeto de
agradecimento, de suas orações, de suas melhores lembranças, de suas próprias
alegrias (Fl 1,3-4).
Alguns
ensinamentos de Paulo para nós hoje são de suma importancia como: a humildade, crer e seguir a humilde de Cristo servindo
aos outros, superando os próprios interesses e servindo com alegria, amor e
bondade. Jesus Cristo é o modelo (1,13-23; 2,11; 3,7-11; 4,13). O Sacrifício: o seguimento de Jesus sob
orientação de Paulo, os líderes e os crentes devem caracterizar-se pela
capacidade de morrer para si mesmos. A Unidade: Em cada Igreja, as divisões constituem no pior dos
inimigos. Orgulho e prepotência devem
ser vencidos pela necessidade de construir a comunidade (2,1-4.14; 3,15; 4,2). A vida
cristã: A exitosa semeadura do evangelho na vida cristã exige autodisciplina,
esforço e obediência à Palavra. E por última talvez a mais importante
que o Papa Francisco menciona muito a Alegria:
Os crentes devem caracterizar-se por ter profunda serenidade e paz em meio das
dificuldades. A alegria deve dar-se inclusive em meio das dificuldades. A
alegria é um dom do Espírito (1,4.8.25; 2,2.17-18.28.29; 3,1; 4,1.4.10).
Fiquem sempre alegres no Senhor!
Repito: fiquem alegres! Que a bondade de vocês seja notada por todos.
Essas palavras de Paulo são muito fortes e tem um
sentido profundo em nossa vida de discípulos missionários, sem a humildade, o
sacrifício, a vida cristã, a unidade e a alegria não se pode ser seguidor de
Cristo. Como religiosa me sinto interpelada em ser um sinal visível do Reino de
Deus na missão junto as famílias migrantes carentes que encontro no meu
cotidiano, sem essa motivação não teria sentido minha consagração.
5)
SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENCES
A
carta quer esclarecer dúvidas sobre a demora da parusia. Retoma a primeira
carta, mas incorpora elementos novos, como: a ociosidade, a devassidão e a
esperança. O fim dos tempos virá, mas não logo. É necessário termos uma
esperança ativa. Os sinais precursores do fim ainda não chegaram (2Ts 2,1-12).
Enquanto na primeira carta a preocupação era com as pessoas falecidas, na
segunda é com os vivos e com o modo como resistem diante das tribulações.
A
carta nos convida a não se preocupar com o quando acontecerá a parusia, mas com
o como agir e resistir, confiando sempre. Tomar cuidado com a apostasia (2,3),
que é abandonar a fé, deixando-se seduzir pelo “adversário” (2,4). Este será
destruído pelo sopro da boca do Senhor (2,8).
Menciona a fé e o amor (1,3-4). Isto
mostra que a dimensão da esperança estava confusa. Por isso, a carta retoma o
tema da esperança sob a forma de perseverança, de firmeza diante daquilo que
haviam aprendido de Paulo (2,15), ou seja, os princípios fundamentais da vida
cristã (1Ts 4,1).
A
carta serve para animar e afirmar a nossa convicção sem jamais fugir da luta e
temer o conflito, pois quem espera Jesus Cristo não deve cruzar os braços. Pede
para ter um comportamento vigilante e ativo (2 Ts 1,11); manter a perseverança
(2 Ts 2,15); ânimo e coragem (2 Ts 2,17).
Essa
carta de Paulo nos motiva a buscar a esperança perdida a ter resistência diante das provações sem jamais
perder o elã missionário. Sinto enviado e chamada por Deus na missão junto com os
migrantes, mesmo diante das inúmeras dificuldades que se apresentam no caminho
encontro forças em seguir apostando no projeto do Reino.
Paulo
inspira a sair de mim, a ser missionária de corpo e alma, a confiar plenamente
na graça de Deus, persistindo no caminho com alegria e esperança. Como
Scalabriniana sinto-me desafiada no
contexto migratório a ser sinal de luz, acreditando que vale a pena persistir e
lutar pelo Reino da justiça, amor e acolhida e que na diversidade de culturas
formamos comunhão e não divisão.
BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2002
BROWN, Raymond. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004
MCKENZIE, John. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1983
RODRIGUEZ, Gabriel P. Comentário ao Novo Testamento. São Paulo: Ave Maria,
2006